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Opinião

Roubei a minha dignidade com o meu voto

Foto: Reprodução/TSE

Muito me revolta ver (e participar — ainda que para provocar uma visão crítica da realidade) pessoas defendendo políticos e/ou partido A ou B com exacerbado fanatismo com a mesma paixão como se encontra em uma torcida por time de futebol. Neste, para o torcedor fanático, mesmo que o seu time favorito perca inúmeras partidas e até seja rebaixado, o torcedor permanecerá fiel. Triste e revoltado! Mas, fiel.

É assim que tenho visto a postura política brasileira em nossos tempos. Eleitores exercendo uma (des)consciência política fanática por interesses próprios, seja por paixão simpatizante do politiqueiro (vou propositadamente evitar usar a expressão “político” por desacreditar em sua existência no sentido mais puro e etimológico da palavra em nosso país nos dias atuais), seja por interesse próprio.

É triste ver que “caciques politiqueiros” com largas fichas criminais de corrupção e roubo permanecem sendo renovados, a cada processo eleitoral, em seus cargos públicos. Certamente que grande parte dessa façanha se dá pela compra de votos em suas mais diversas formas. Mas, o grosso da coisa, se dá por votos de venerados simpatizantes apaixonados que, fechando os olhos para a descarada larga ficha criminal de corrupção e roubo, promovem a recondução de cleptocratas ao poder.

Por outro lado, vemos aqueles que, corruptamente, barganham seus votos de forma direta ou indireta. De forma direta são aqueles que deliberadamente trocam seus votos por uma promessa de emprego, uma inserção no programa de assistência social público, um saco de cimento, o pagamento de uma conta de água ou luz, etc. Os de forma indireta são aqueles que barganham o seu voto para não perderem os seus empregos por contrato, para não serem desligados do programa de assistência social público, entre outro.

A questão é: enquanto nós brasileiros não entendermos que o sentido mais puro da “política” é a ideia do “sumo bem coletivo” e não os interesses particulares ou de paixão venerada, nossa nação irá, cada vez mais, afundar-se no lamaçal do egoísmo inescrupuloso de uma politicagem interesseira, tanto por parte dos politiqueiros quanto dos eleitores, tornando-se um círculo constante de sacanagem acanalhada onde bem cabe aplicar a famosa máxima formulada pelo Conde Joseph-Marie de Maistre ao afirmar: “Toute nation a le gouvernement qu’elle mérite” (“Toda nação tem o governo que merece”).

Portanto, estou convencido de que a saída para esta terrível crise política moral que enfrentamos, não se encontra em politiqueiro A ou B, ou em partido e/ou ideologia A ou B, mas, em deixarmos de roubar nossa dignidade através do voto, exercendo nossa obrigação cívica sem egoísmos e paixões, mas com uma honesta e exclusiva consciência de fervor coletivo. É entender que política é a coisa pública, e, assim sendo, qualquer voto exercido destituído de um imanente interesse exclusivamente benéfico ao bem de todos, nos torna tão execráveis quanto aqueles a quem nós elegemos para, depois, hipocritamente criticarmos revoltosamente.

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